quarta-feira, 14 de outubro de 2009

MOISÉS, O CONDUTOR DO POVO NO DESERTO


III – A BIOGRAFIA DE MOISÉS(III) – MOISÉS, O CONDUTOR DO POVO NO DESERTO

- O cântico de Moisés põe fim à missão que Deus confiou a Moisés quanto à libertação política de Israel. A partir de então, Moisés inicia a segunda fase de sua tarefa: a de levar o povo até a Terra Prometida, o que representava, como ensinam até hoje os rabinos judeus, a tarefa da libertação do povo de Israel do pecado, uma tarefa mais árdua e difícil.

- Este ensino dos rabinos judeus é bem elucidativo. Assim como Moisés, os líderes do povo de Deus devem se dedicar a esta dupla tarefa: libertar o povo da natureza do pecado, o que se alcança pela salvação na pessoa de Jesus Cristo, quando passamos da morte para a vida (Jo.5:24), quando nascemos de novo, ocasião em que vemos o reino de Deus (Jo.3:3). Neste instante, somos libertos da natureza pecaminosa, que antes nos dominava e escravizava (Gn.4:7; Jo.8:34). Como, portanto, admitir que “líderes”, na atualidade, tolerem o pecado, não o denunciem nem o combatam?

- Mas não basta haver a libertação da natureza do pecado. Necessário se faz que haja, também, a libertação do poder do pecado, ou seja, a manutenção da velha natureza sob crucifixão (Gl.2:20), a manutenção diária de uma vida de santidade, isto é, separação do pecado, mediante o cumprimento da lei de Cristo (I Co.9:21; Gl.6:2), que é a lei do amor e da obediência à Palavra de Deus. Faz-se necessário que se nasça da água e do Espírito, para que se entre no reino de Deus (Jo.3:5). O líder tem a incumbência de conduzir o povo pelo caminho da santidade, de ensinar-lhe a lei de Cristo, fazendo com que o povo possa fazer a travessia do deserto até alcançar a Terra Prometida. Como, portanto, admitir que “líderes”, na atualidade, não falem sobre santificação nem sobre santidade?

- Esta sempre será a grande preocupação de Moisés durante toda a jornada no deerto: fazer com que o povo cumprisse a vontade do Senhor, seguisse os mandamentos e, assim, se habilitasse a ingressar na Terra Prometida. Desde o cântico elaborado após a passagem do mar Vermelho até o seu último cântico, antes de subir o monte Nebo para morrer, Moisés teve esta preocupação, preocupação tão grande que o lugar de ensino da lei, ainda nos tempos de Jesus, milhares de anos depois, era denominado de “cadeira de Moisés” (Mt.23:2).

- Moisés tanto se preocupou com a observância da lei por parte de Israel que repetiu as leis por diversas vezes, como se vê nos livros do Pentateuco, e, como se não bastasse isto, deixou escrita a lei (Dt.31:9), para que ela fosse conhecida, ensinada, aprendida e praticada pelo povo. Verdade que o fez sob inspiração do Espírito Santo, mas isto não exclui o fato de que tinha o sincero desejo de que o povo obedecesse à lei e servisse ao Senhor. O quinto livro do Pentateuco, o Deuteronômio, nada mais é que quatro sermões de Moisés, que o grande líder proferiu antes de morrer para todo o povo, recapitulando toda a lei, demonstrando toda a profundidade do significado da lei, como última lição a ser ministrada para os seus liderados.

- Do começo ao fim da jornada do deserto, portanto, vemos que Moisés dava imensa prioridade à Palavra de Deus, o que deve ser um exemplo a ser seguido por todo servo do Senhor, máxime quando estamos a viver os últimos dias antes do arrebatamento da Igreja. Agir como agiu Moisés é repetir o próprio gesto divino, que pôs a Sua Palavra acima até mesmo de Seu nome (Sl.138:2). Temos feito isto?

- Realizada a libertação política, parecia que o trabalho de Moisés estava cumprido. Entretanto, o trabalho de Moisés estava apenas a começar: ainda haveria quarenta anos de jornada no deserto, de condução do povo até o Sinai, quando houve o pacto com o Senhor e, depois, o início da jornada até a Terra Prometida que, prevista para durar dois anos, acabou tendo a duração de quarenta anos em virtude da incredulidade de Israel.

- Nesta jornada do deserto, não vamos encontrar elogios e aplausos por parte do povo a Moisés. Muito pelo contrário, temos uma sucessão de atritos e de murmurações do povo contra o líder enviado por Deus para conduzi-los. Estes fatos mostram-nos que não deve o líder esperar do povo de Deus recompensas, reconhecimentos e elogios. Todo líder que viver em função desta perspectiva está fadado a um dilema: ou viverá decepcionado, porque não é isto que encontrará ou, na busca pela “popularidade”, desviar-se-á do propósito divino. Não é por outro motivo, aliás, que Paulo dizia aos gálatas que não exercia seu ministério para agradar os homens (Gl.1:10). Por isso que a busca da popularidade e da simpatia é sempre uma marca registrada dos falsos ministros (II Pe.2:2,13).

- A começar da murmuração em Mara (Ex.16:23) até o episódio da mistura com as moabitas (Nm.25), há uma sucessão de atritos entre o povo e Moisés, numa demonstração que o papel do líder não é o de agradar o povo, mas sempre o de seguir a vontade de Deus, pois é o Senhor quem sabe o que é melhor para o povo. Em todos estes fatos, sempre observamos Moisés buscando a orientação divina para a solução dos problemas. É em Deus que o líder deve buscar a direção e orientação para a tomada de decisões. Moisés deixa-nos, portanto, o exemplo da direção do Senhor como a única forma para bem se liderar o povo de Deus.

- No episódio da murmuração em Mara, por exemplo, diante da murmuração do povo, Moisés clamou ao Senhor (Ex.15:25), tendo obtido a solução do problema ao seguir a orientação divina. Nesta mesma oportunidade, Moisés ensinou ao povo que o caminho da obediência era necessário para que se tivesse a bênção de Deus (Ex.15:26). O verdadeiro líder do povo de Deus ensina o povo a obedecer à Palavra do Senhor.

- Na seqüência da jornada no deserto, vemos outra qualidade da vida de Moisés no seu encontro com o seu sogro Jetro. Por motivos que a Bíblia não explica, o fato é que Zípora, a mulher de Moisés e seus filhos, haviam voltado para a companhia de Jetro e este os leva de volta a Moisés, quando o povo já se encontrava no deserto. Este gesto do sogro de Moisés mostra-nos claramente que a família deve participar do ministério daquele que é chamado por Deus, ao menos enquanto os filhos são menores e dependentes dos pais.

- Moisés recebe seu sogro com todo o respeito e consideração, numa prova de que o fato de estar à frente do povo de Israel não o fizera rejeitar o seu passado e a sua condição anterior de pastor das ovelhas de Jetro. A recepção que deu a Jetro mostra que Moisés era grato e que considerava aqueles que o haviam ajudado no passado. Como seria bom que todos os líderes considerassem aqueles que os lideraram no passado, que fossem gratos, pois sem esta qualidade, ninguém poderá ter um futuro feliz e próspero: não nos esqueçamos que aquilo que semeamos, colheremos, pois Deus não Se deixa escarnecer (Gl.6:7).

- Mas, além de grato, Moisés também demonstra que é humilde, pois aceitou receber um conselho da parte de seu sogro. Ao ver que Moisés decidia sozinho todas as causas do povo, que se aglomerava numa verdadeira “fila do INSS” todos os dias para ser atendido por ele, Jetro, dentro de sua experiência, sugeriu a Moisés que efetuasse a descentralização do poder, resolvendo apenas as causas mais graves, criando maiorais de mil, de cem, cinqüenta e de dez para resolver as “pequenas causas”, trazendo agilidade e paz para o povo de Israel.

- Moisés prontamente atendeu ao conselho de Jetro (Ex.18:24), demonstrando ser uma pessoa humilde e receptiva a críticas. Que grande qualidade de um líder: o de ouvir conselhos. Muitos, na atualidade, são arrogantes e soberbos, “sabichões”, que não aceitam os conselhos de pessoas mais experientes e que muito podem ajudar na eficácia da liderança. Se é certo que o líder deve seguir a orientação divina, também é certo que Deus, como escolheu um povo, põe à disposição dos líderes pessoas que têm capacidades e habilidades para dar bons conselhos e auxiliar no sucesso e êxito da obra do Senhor.

- Salomão, o homem mais sábio de toda a terra, não abriu mão dos conselheiros e, inspirado pelo Espírito de Deus, disse o seguinte: “Onde não há conselho os projetos saem vãos, mas, com a multidão de conselheiros, se confirmarão” (Pv.15:22). O apóstolo Paulo ensinou-nos que a igreja é como um corpo, ou seja, tem vários membros que dependem uns dos outros. Assim sendo, não há como uma pessoa sozinha ter o encargo de todo o povo. Necessário se faz que haja um corpo organizado de auxiliares, de pessoas capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza e que possam ter poder decisório sobre todo negócio pequeno, aliviando, assim, a carga do líder, pois, na igreja, devemos levar as cargas uns dos outros, pois esta é a única maneira de cumprirmos a lei de Cristo (Gl.6:2).

- Na atualidade, muitos líderes não querem ouvir conselhos, nem aceitam que surjam conselheiros e, muito menos, auxiliares. Querem ter súditos, pessoas que somente saibam dizer “amém”, mas que não têm qualquer poder decisório. O resultado é a ineficiência, o esgotamento do líder e um acúmulo cada vez maior de problemas sem solução, causando um prejuízo muito grande à obra de Deus. Como ensinou Jetro, a descentralização, o aproveitamento de homens e mulheres que o Senhor põe à disposição do Seu povo é fundamental para que o líder subsista e o povo de Deus venha em paz ao seu lugar (Ex.18:23), que é o céu.

- É, realmente, lamentável o que se tem observado em muitas igrejas locais na atualidade. A arrogância e a ganância pelo poder fazem com que muitos líderes não escolham homens capazes e tementes a Deus para estarem a seu lado, mas escolhem “capachos”, que não têm qualquer capacidade, mas servem para bajular e dizer “amém”. O resultado é o esgotamento físico e mental da liderança, liderança esta que não subsiste, bem assim a falta de paz no meio do povo de Deus. Livremo-nos destas pretensões enganosas, destes temores totalmente sem respaldo bíblico e aproveitemos aqueles que o Senhor tem levantado no meio da igreja para ajudar o povo de Deus a chegar ao céu.

- Moisés tanto aprendeu a lição da descentralização e da necessidade de ajuda que, mais tarde, pediu a Deus que houvesse ainda mais uma repartição de suas funções, desejo este tão de acordo com a vontade do Senhor que foi atendido, tendo, então, o Senhor dado do Espírito a setenta anciãos, que com ele compartilhassem a direção espiritual do povo (Nm.11:11-30).

- A lição da descentralização faz-nos, também, entender que o líder não deve fazer tudo, mas delegar tarefas a outros. Faz parte da liderança saber delegar funções, atribuir tarefas e missões a quem o Senhor preparou para exercê-las. Moisés, por exemplo, embora tivesse sido um grande general no passado, não vacilou em nomear Josué para comandar o exército na guerra contra os amalequitas (Ex.17:9), enquanto ele, Arão e Hur oravam durante a batalha. Faz-se necessário que o líder saiba delegar tarefas, tudo fazendo segundo a orientação divina, mas jamais se esquecendo que o fato de ter sido chamado à liderança não significa que tenha de fazer tudo sozinho.

- Moisés mostrou, também, toda a sua humildade de espírito. Sempre clamava a Deus para que tivesse a solução dos problemas, jamais se impondo com autoritarismo ou com soberba. Mesmo nos momentos mais difíceis de seu ministério, Moisés nunca quis se sobrepor sobre o povo, demonstrando autoridade consoante a ordem de Deus que, mais de uma vez, interveio diretamente para mostrar que Moisés era o homem chamado por Ele para liderar o povo, como no episódio da sedição de Miriã e Arão (Nm.12:1-10). Quando precisou usar de sua autoridade, fê-lo debaixo da chamada e do senhorio divinos na sua vida, como no episódio da rebelião de Data, Abirão e Coré (Nm.16).

- Ainda falando nos atritos entre Moisés e o povo, vemos que a liderança frente ao povo de Deus não exclui a ocorrência de rebeliões. A rebelião, a revolta não atitudes próprias dos seres humanos e, infelizmente, estarão presentes na história do povo de Deus até o final da história, somente vindo a cessar no juízo do trono branco, que ocorrerá depois da última rebelião (cfr. Ap.20:7-10).

- Assim, antes de tentar evitar criar expedientes que impeçam a rebelião (o que é uma grande ilusão), o líder deve ter convicção de sua chamada e, ante tal convicção, buscar junto a Deus sabedoria para mostrar isto publicamente quando for necessário. Moisés sempre o fez e Deus o honrou em todas as oportunidades em que precisou mostrar que estava na posição determinada pelo Senhor. Quem está no lugar determinado por Deus não tem o que temer, deve tão somente pedir a orientação divina para que tal chamado se evidencie no instante em que isto for necessário.

- Outra lição que Moisés nos deixa, em termos de liderança, é que tinha profunda intimidade com Deus. A partir do episódio da sarça, vemos Moisés, cada vez mais, aprofundando a sua intimidade com o Senhor, tanto que o próprio Senhor testifica que Moisés foi o profeta que mais intimidade teve conSigo, um profeta com quem Deus falava “boca a boca” (Nm.12:8), conhecido de Deus “face a face”(Dt.34:10). Moisés sempre desejou ter íntima comunhão com o Senhor, a ponto de ter pedido para ver a própria glória de Deus (Ex.33:18-23). Um líder do povo de Deus precisa ter contínua e cada vez maior intimidade com Deus. Não é possível liderar com sucesso sem que se tenha tal intimidade, pois para se ter a direção de Deus é absolutamente necessário que haja um perfeito entrosamento entre a nossa vontade e a vontade do Senhor.

- A intimidade com Deus traz, e Moisés nos mostra isto, a inexistência de vontade própria por parte do líder, que tão somente executa a vontade de Deus. Não vemos, durante o ministério de Moisés, qualquer determinação ou imposição que tenha vindo direta e exclusivamente de Moisés. Mesmo o divórcio, que foi posto na lei de Moisés à revelia da vontade divina, como nos revela o Senhor Jesus (Mt.19:8), não foi fruto de uma opção de Moisés, mas, sim, da dureza dos corações dos israelitas. Moisés sempre se contentava em saber qual era a vontade de Deus e fazia tudo conforme o modelo determinado pelo Senhor (Ex.39:43; 40:29). Que bom seria que, na atualidade, os líderes se dispusessem a fazer tudo conforme o modelo divino, que é a Bíblia Sagrada, e não se tornassem, como muitos têm se tornado, inventores de males (Rm.1:30) e de falsas doutrinas (Mt.15:9; Mc.7:7; Cl.2:22; I Tm.4:1; Hb.13:9).

- Uma outra demonstração da intimidade de Moisés com Deus está no episódio em que o roto de Moisés resplandeceu a glória divina (Ex.34:29-35), onde vemos que a intimidade com Deus faz com que cada vez mais o líder não apareça, mas faça Deus aparecer para os seus liderados. Quanto mais o líder se aproxima de Deus, mais o Senhor aparece. As palavras e atitudes do verdadeiro líder devem sempre repetir a fala de João Batista: “é necessário que Ele cresça e que eu diminua” (Jo.3:30).

- Se isto já era necessário no tempo de Moisés, no tempo da lei, nos dias da dispensação da graça, temos ainda maior necessidade de tal intimidade, visto que, ao contrário do que ocorria nos dias de Moisés, em que o Espírito Santo era dado sob medida, todo o povo de Deus agora tem o Espírito Santo. Moisés desejava, nos seus dias, que todo o povo fosse profeta (Nm.11:29), mas hoje o Espírito Santo habita em cada crente e todos nós somos anunciadores da Palavra de Deus (Jo.14:17; Mc.16:15; Rm.8:9). Assim, a liderança deve ter ainda mais intimidade com o Senhor, cuja revelação não foi apenas por figura, como se fez com Moisés, mas mediante a expressa imagem da Sua Pessoa, o Senhor Jesus, um profeta que seria maior do que Moisés (Dt.18:18; Hb.3:3).

- A intimidade de Moisés com Deus era tanta que Moisés não aceitou que Deus mandasse um anjo para ir com o povo, fazendo questão que o Senhor Se fizesse presente na jornada no deserto (Ex.33:2,15). A intimidade com Deus faz-nos sentir a necessidade da Sua presença, da Sua companhia durante todo o tempo, presença e companhia que são insubstituíveis. Quantos líderes, na atualidade, abrem mão da companhia de Deus e preferem ser conhecidos por serem “companheiros de anjos”, “entrevistadores de demônios”, “portadores de fórmulas de fé” e tantas outras invencionices. O verdadeiro líder chamado por Deus, porém, é ainda aquele que faz questão da presença e da companhia do Senhor e que não se atreve a dar nem um só passo sem o amparo do Senhor.

- A intimidade de Moisés com Deus também é demonstrada no fato de que Moisés foi a única personagem bíblica que foi proibida pelo Senhor de orar por um determinado assunto. Moisés foi proibido de orar para que Deus lhe permitisse entrar na Terra Prometida (Dt.3:26). Era tanta a liberdade de Moisés para com Deus e de Deus para com Moisés, que o Senhor não permitiu que Moisés voltasse a orar pedindo para entrar na Palestina. Que grande intimidade!

- Os atritos do povo com Moisés e a intimidade de Moisés com Deus fazem surgir uma outra característica que se apresenta continuadamente na vida ministerial de Moisés: a intercessão. Mais de uma vez, encontramos Moisés intercedendo pelo povo, pedindo a Deus que perdoasse o povo, que não o destruísse, apesar de todo o mal que o povo fazia, seja contra Deus, seja contra o próprio Moisés. No episódio do bezerro de ouro, por exemplo, Moisés chegou, mesmo, a pedir que o Senhor tirasse o seu nome do livro da vida caso não decidisse perdoar o povo (Ex.32:32).

- O líder deve interceder pelos liderados diante de Deus. Embora seja uma autoridade e tenha de aplicar a disciplina, o líder jamais deve querer o mal dos seus liderados, mesmo dos rebeldes e dos que pecaram. Muito pelo contrário, seu papel é interceder por eles diante de Deus, para que obtenham o perdão divino e possam retomar a sua caminhada para o céu. Este papel do líder está bem evidenciado no ministério de Moisés, que sempre foi um ministério de intercessão em prol daqueles que pecavam. Intercessão é oração sincera e contrita a Deus em prol dos pecadores, é pedido a Deus de perdão pelos pecados cometidos, o que não se confunde, em absoluto, com tolerância com o pecado e negligência na aplicação das devidas penalidades. O mesmo Moisés que mandou matar os idólatras (Ex.32:37), foi o líder que arriscou a sua própria eternidade em prol do povo.

- Moisés, durante os quarenta anos do “curso do deserto”, também aprendeu a ser manso (Nm.12:3), um requisito indispensável para quem lidera o povo de Deus, mormente quando sabemos que o Senhor Jesus mandou que aprendêssemos dEle a mansidão(Mt.11:29). A mansidão de Moisés é mais um resultado de sua intimidade cada vez maior com o Senhor. Moisés, antes tão agressivo e violento, sempre se portou com mansidão, mesmo nas horas mais difíceis em que se teve de enfrentar o povo rebelado. Moisés clamava a Deus, não se envolvendo nas atividades revoltosas, mantendo uma certa distância de tudo aquilo que não correspondia à vontade divina, sem deixar de advertir o povo a respeito dos seus erros. Foi, assim, por exemplo, no episódio da guerra empreendida pelos israelitas depois da morte dos espias. Moisés, sem deixar de avisar o povo de que a guerra seria em vão, não impediu o povo de ir guerrear, embora não o tenha acompanhado. Após a derrota militar, sua postura foi decisiva para que o povo se recompusesse e se submetesse aos 38 anos de jornada em círculo até a morte daquela geração incrédula (Nm.14).

- Por fim, Moisés dá-nos uma lição em sua liderança a respeito de sua sucessão. Em momento algum, Moisés procurou criar mecanismos para a sua substituição. Não buscou pôr seus filhos ou mesmo a sua tribo em posição de vantagem, não se preocupou em colocar sucessores. Sua preocupação era com a continuidade do povo de Deus, algo que somente ocorreria se houvesse obediência à Palavra de Deus.

- Ao ficar caracterizado que não entraria na Terra Prometida, dentro de sua responsabilidade como líder, Moisés, então, pediu a Deus que pusesse alguém em seu lugar que levasse a efeito a conquista da Terra(Nm.27:16,17). A liderança era indispensável e Moisés, sabendo que o povo é de Deus e não dele, pediu ao Senhor que indicasse o seu sucessor. Que grande exemplo para os nossos dias, em que muitos se esquecem de que é Deus quem dá líderes para a igreja e não a igreja e, muito menos, os líderes atuais que escolhem as lideranças para o povo de Deus. O Senhor ouviu a oração de Moisés e designou Josué como seu sucessor (Nm.27:18-23).

- Os líderes do povo de Deus devem se lembrar de que foram dados por Deus à igreja e que, portanto, não cuidam senão de rebanho alheio, não podendo demonstrar domínio sobre algo que não lhes pertence (I Pe.5:1-3). É óbvio que, se Jesus tarda e os anos avançam, devem os líderes ter a responsabilidade de fazer a obra de Deus prosseguir, pois ninguém é insubstituível, mas também se deve ter a devida humildade de pedir a Deus orientação a respeito da sucessão, não tomando decisões precipitadas, muitas vezes motivadas por interesses econômico-financeiros, familiares e políticos, sem qualquer orientação do Senhor. Guardemo-nos disto e aprendamos com Moisés a deixar a nossa sucessão nas mãos do Senhor.

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